Diagnósticos atrasados matam: mortes por HIV/Aids crescem no Amazonas
Amazonas – O Amazonas vive um cenário preocupante em relação ao HIV/Aids. Entre janeiro e julho de 2025, foram registrados 1.535 novos casos da infecção, o que representa uma queda de 14% em comparação ao mesmo período do ano passado (1.786 casos). No entanto, o número de mortes aumentou: subiu de 192 para 196, uma alta de 2,08%, segundo dados divulgados pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM). A redução nas notificações pode parecer uma boa notícia, mas não é. Segundo a infectologista Ana Galdina Mendes, os números apontam justamente o contrário: falhas no diagnóstico precoce e dificuldade no acesso aos testes estão fazendo com que muitas pessoas só descubram que têm o vírus quando ele já se transformou em Aids — fase em que o sistema imunológico já está comprometido.
“A gente está testando tarde demais. As pessoas já chegam com a doença instalada. É como se estivéssemos voltando aos anos 90”, alerta a médica. Manaus lidera os registros e mortes aumentam na capital A capital concentra a maior parte dos casos no estado. Em Manaus, foram 1.168 diagnósticos nos primeiros sete meses deste ano — uma queda de 18,2% em comparação com 2024, quando foram 1.429 casos. Porém, as mortes aumentaram: subiram de 149 para 160 — alta de 7,38%. Para Ana Galdina, a queda nas notificações não significa menos transmissão do vírus, e sim que muita gente ainda não foi diagnosticada. “Esse número menor não reflete a realidade. Existe uma demanda reprimida de pessoas que vivem com o vírus e ainda não sabem”, explica.
No interior do estado, a situação é igualmente preocupante. Foram 367 diagnósticos no período e 36 mortes por Aids. A especialista destaca que, em muitos municípios menores, o preconceito, o medo do julgamento social e a falta de acolhimento nos postos de saúde dificultam o acesso ao teste. “As pessoas não se sentem à vontade para buscar ajuda. Em cidades pequenas, há receio do que os outros vão pensar. Além disso, muitos profissionais de saúde ainda têm posturas que afastam os pacientes”, denuncia.
Outro problema é a oferta limitada de testes em algumas regiões. Em muitos casos, há um número restrito de exames disponíveis ou restrição de quem pode fazer o teste, o que reduz ainda mais a chance de um diagnóstico precoce. Medo do diagnóstico ainda é obstáculo Mesmo com a existência de autotestes que podem ser feitos em casa, o medo do resultado positivo ainda é um dos principais obstáculos para que mais pessoas façam o teste. “Muita gente pensa que ‘só tem HIV quem faz o teste’. Mas é o contrário: quem faz o teste e descobre cedo consegue se tratar e viver normalmente. Hoje, uma pessoa que se trata tem a mesma qualidade de vida de quem não tem o vírus”, afirma Ana. Jovens são os mais atingidos
A maioria dos novos casos está entre pessoas de 20 a 39 anos, com destaque para 709 homens (46,2%) e 319 mulheres (20,8%). Ana Galdina acredita que essa faixa etária é a mais vulnerável por causa da falta de informação sobre prevenção. “Mais de 90% dos jovens em Manaus desconhecem completamente as formas de se prevenir. Poucos sabem o que é PrEP, autoteste ou mesmo a importância do preservativo”, diz. Ela alerta que, na maioria das vezes, a contaminação ocorre no início da vida sexual, mas o diagnóstico só vem anos depois. “Entre pegar o vírus e desenvolver a doença, pode levar de 5 a 8 anos. Então, se alguém recebe o diagnóstico aos 21, provavelmente foi infectado com 14 ou 15 anos”, completa.
Por isso, a médica defende a educação sexual nas escolas e em casa, para que os jovens possam viver sua sexualidade de forma segura, sem tabus e com conhecimento. População acima dos 60 anos também está em risco Embora a maioria dos casos esteja entre os jovens, a faixa etária acima dos 60 anos também tem apresentado crescimento. Em 2025, foram 37 homens (2,4%) e 10 mulheres (0,7%) diagnosticados com HIV no Amazonas. Segundo Ana Galdina, muitos idosos não se consideram em risco e não usam preservativo. “Essa geração não foi educada com o conceito de prevenção. Com o aumento da atividade sexual nessa idade, é fundamental que entendam que também estão expostos e precisam se proteger”, alerta. –
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